Enfim, Voar…

Num dia desses ou, numa noite dessas você sai pela sua rua ou, pela sua cidade ou, ou… sei lá, pela sua vida, quando de repente, por detrás de uma árvore, apareço eu!!!

Mescla rara de penúltimo mendigo e primeiro astronauta a pôr os pés em vênus. Meia melancia na cabeça, uma grossa meia sola em cada pé, as flores da camisa desenhadas na própria pele e uma bandeirinha de “táxi livre” em cada mão.

Ha! ha! ha! Você ri… você ri porquê só agora você me viu.

Mas eu flerto com os manequins.

O semáforo da esquina me abre três luzes celestes e as rosas da florista estão apaixonadas por mim.

Juro!

A lua nos espera nessa rua é só tentar.

E um coro de astronautas, de anjos e crianças bailando ao meu redor, te chama: vem voar.

Eu venho das calçadas que o tempo não guardou. E vendo-te tão triste, te pergunto: O que te falta?

Talvez chegar ao sol? Pois eu te levarei…

Louco, louco, louco! Foi o que me disseram quando disse que te amei. Mas naveguei as águas puras dos teus olhos e com versos tão antigos, eu quebrei teu coração.

Louco, louco, louco, louco, louco! Como um acróbata demente saltarei dentro do abismo do teu beijo até sentir que enlouqueci teu coração, e de tão livre, chorarei.

Vem! Eu te ofereço a multidão… rostos brilhando… sorrisos brincando…

Quem sou eu?

Sei lá, um… um tonto, um santo, ou um canto a meia voz. Já sei que já não sou… nem sei quem sou.

Abraça essa ternura de louco que há em mim. Derrete com teu beijo a pena de viver…

Ama-me como eu sou…

Sepulta os teus amores, vamos fugir… buscar numa corrida louca o instante que passou em busca do que foi.

Voar, enfim, voar…

…

Astor Piazzolla / Horácio Ferres – Balada para um Louco (trechos)